Luís de Sousa sobre “A crítica de Merleau-Ponty à noção de liberdade radical em Sartre”
Resumo:
O legado filosófico de Merleau-Ponty tende a ser associado às suas ideias relativas à natureza da cognição, em particular no que diz respeito ao papel que o corpo vivido tem nela. Por esta razão, pode parecer surpreendente que A fenomenologia da percepção encerre precisamente com um capítulo dedicado à noção de liberdade. Na verdade, a análise fenomenológica da percepção tem consequências que vão muito para além do domínio da filosofia da mente e do corpo. Em A fenomenologia da percepção, Merleau-Ponty apresenta uma concepção da subjectividade e da natureza humana que, apesar de parecer terminologicamente semelhante, constitui uma crítica radical às concepções de O ser e o nada de Sartre. Na minha comunicação, pretendo precisamente mostrar que a concepção de liberdade de Merleau-Ponty pretende subverte a ideia sartriana de liberdade radical. Merleau-Ponty, tal como Sartre, associa a liberdade à subjectividade, i.e. ao ponto de vista da primeira pessoa. No entanto, não só a facticidade, isto é a nossa condição de seres encarnados, históricos e sociais, não se opõe, segundo Merleau-Ponty, à liberdade, como é, antes, uma condição dela. É verdade que a posição de Sartre a este respeito não deixa de se revestir de alguma ambiguidade na medida em que considera que o nosso “projecto fundamental” e a nossa “situação” são interdependentes. No entanto, apesar desta interdependência, Sartre mantém a ideia de liberdade absoluta. No final, vou mostrar que Merleau-Ponty se baseia precisamente na ideia sartriana da interdependência entre o “projecto fundamental” e a “situação” para rejeitar a concepção sartriana de liberdade.