CultureLab • Aula Aberta

Pedro Duarte e João Constâncio

Nietzsche e Heidegger: a questão do tempo

De Platão ao Positivismo, a tradição filosófica orientou-se por uma verdade que excluía o tempo. Seu signo maior foi o Deus do Cristianismo, por sua eternidade. No entanto, no final do século XIX, Nietzsche anunciava que “Deus morreu”. Era a velha verdade supra-sensível que declinava historicamente, desafiando-nos a uma reconciliação com o tempo — ou, como diria depois Heidegger, a pensar a conjunção “ser e tempo”. Nietzsche a pensou como “eterno retorno do mesmo”, por oposição não apenas à transcendência imóvel de Platão e do Cristianismo, mas também às matrizes utópicas e teleológicas das modernas filosofias da história, como a de Hegel (pois todas imaginam uma eliminação do sofrimento e das contradições da vida, seja na imortalidade ou no futuro). Por isso, Heidegger, em suas interpretações, sublinhou o comentário de Nietzsche sobre “a aversão da vontade pelo tempo e seu foi”. Não bastasse isso, Nietzsche advertia: “receio que não nos livraremos de Deus, pois ainda cremos na gramática”, apontando para a necessidade de uma linguagem poética para dizer aquela reconciliação com o tempo, como se vê em seu Assim falava Zaratustra (e como Heidegger depois sugere sobre um diálogo entre a filosofia e a poesia).

Bio

Professor Doutor de Filosofia da PUC-Rio. Bolsista de Pesquisa do CNPq e da Faperj. Coordenador do Projeto Arte, Autonomia e Política no Programa Capes-PrInt, no qual é responsável pela parceria académica entre a PUC-Rio e a Universidade NOVA de Lisboa. Ocupou, no pós-doutoramento, a Cátedra Fulbright de Estudos Brasileiros na Universidade Emory (EUA, 2020). Foi Professor Visitante na Universidade Södertörns (Suécia, 2012) e Pesquisador Visitante na Universidade Brown (EUA, 2004/2006). É autor dos livros “O ensaio como narrativa” (Oca, 2021 – Portugal); “A pandemia e o exílio do mundo” (Bazar do Tempo, 2020); “Tropicália” (Cobogó, 2018); “A palavra modernista: vanguarda e manifesto” (Casa da Palavra, 2014); e “Estio do tempo: Romantismo e estética moderna” (Zahar, 2011). Organizou o livro “Objeto não identificado: Caetano Veloso – 80 anos” (Bazar do Tempo, 2022). Tradutor dos livros “Pensar sem corrimão” e “Liberdade para ser livre”, de Hannah Arendt (Bazar do Tempo, 2021 e 2018). Co-autor, argumentista e curador da série de TV “Alegorias do Brasil”, juntamente com o diretor Murilo Salles (Canal Curta!, 2018). Curador, juntamente com a escritora Tatiana Salem Levy, da Secção “Arte, Autonomia e Política” da Revista Pessoa (https://www.revistapessoa.com). Editor da revista “O que nos faz pensar”, do Departamento de Filosofia da PUC-Rio.