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Virtude entre inimigos – Uma leitura da receção fichteana da Germânia de Tácito

João Gouveia

A terceira sessão do Seminário Permanente do EPLab estará a cargo de João Gouveia, com uma apresentação intitulada “Virtude entre inimigos – Uma leitura da receção fichteana da Germânia de Tácito”. A sessão terá lugar no dia 20 de janeiro às 10:30, na sala A209 da NOVA FCSH (Campus de Berna), e decorrerá em português.

Resumo

Durante as guerras napoleónicas, Fichte recebeu a Germânia de Tácito como um testemunho da força e coragem do povo alemão. Dois aspetos desta receção ilustram a formação de uma mentalidade nacionalista. Primeiro, há que referir a defesa das virtudes de um povo pela voz do inimigo. Roma permanece o assunto de fundo na Germânia de Tácito, construindo uma mensagem não expressa sobre a perda da virtude primitiva por parte do povo romano e dos seus líderes. Em segundo lugar, é também claro como Fichte acredita ingenuamente na capacidade do povo para manifestar velhas virtudes militares de uma forma intelectualizada e orgulhosa. O idealista alemão destaca a coragem alemã como principal tema da obra de Tácito. Contudo, fá-lo na esperança de mostrar que os alemães do século XIX podem preservar a sua linguagem e permanecer coesos como uma comunidade linguística, afirmando assim o seu destino enquanto cidadãos espiritualmente sofisticados. Tácito apoia-se na leitura que faz dos hábitos dos germânicos para mostrar como é que o fortalecimento de virtudes morais se manifesta no fortalecimento de poder militar. Fichte, por sua vez, recorre ao passado idílico do povo alemão, tal como descrito por Tácito, para defender a reativação da virtude perdida da coragem, agora na sua manifestação espiritual e linguística. Mesmo que ambos tenham concedido crédito ao reconhecimento da virtude universal (a virtude que valeria a pena seguir), Tácito mostrou-se disponível para aprender com os germânicos novas formas de preservar as virtudes que valorizava e novas possíveis manifestações delas. Por outro lado, Fichte esteve apenas disponível para aprender exclusivamente com os germânicos primitivos e para absorver a sua essência coletiva – germanidade, mesmo que um conjunto de qualidades particulares, tornou-se indistinguível da virtude universal. De acordo com uma tal visão, o inimigo torna-se um aspeto acidental para a nação alemã, permitindo que esta se feche narcisisticamente em si mesma. Isto mostra uma dimensão menos óbvia do peso militar das relações internacionais, pois mesmo que a preservação de inimigos bem definidos não conduza necessariamente a relações pacíficas, a valorização exclusiva do passado nacional do nosso próprio povo pode minar a capacidade para conceber a própria existência de inimigos, sem criar novas formas de os conceber de todo.


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Financiamento
Evento financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto UID/00183/2025.