Do Erótico
Entre as muitas obras de arte deste museu, decidi escolher esta: um torso que tem sido reconhecido como uma cópia romana de uma escultura do século IV a.C., de Escopas de Paros. O fragmento de uma escultura em mármore branco, a representação anatomicamente naturalista de um jovem nu, moderadamente musculado. Já sem cabeça, nem braços, nem a parte inferior das pernas, isso não nos impede de o reconhecermos como o fragmento de um corpo masculino real, natural, mas na sua forma perfeita. Atlético. Canónico. Grego. A ordem do mundo incarnada, desnudada, desvelada (aletheia), e feita carne, porque a pedra é, aqui, carne vigorosa: por baixo daquela pele branca escondem-se órgãos e músculos, corre o sangue e os pulmões respiram. A sua beleza não é só cosmética, mas parte do Cosmos, da ordem interna e divina do mundo-belo que surge do Caos. E é também essa tensão entre ordem e caos que neste corpo, imperfeitamente perfeito, me interessa.
— Paulo Pires do Vale
COLEÇÃO FRENTE À OBRA. ARTE E FILOSOFIA
A presente coleção reúne as conferências apresentadas no ciclo “Frente à Obra. Arte e Filosofia”, que teve lugar no Museu Nacional de Arte Antiga, entre 2 e 7 de Maio de 2022, como resultado de uma colaboração entre o Plano Nacional das Artes, o Departamento de Filosofia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, o Instituto de Filosofia da NOVA e o MNAA. Os oradores foram convidados a escolher uma obra do Museu e a propor uma reflexão filosófica na presença da mesma, antecedida por uma contextualização histórica apresentada por um membro da equipa do Museu. A publicação das conferências vem agora a público, entendendo-se como uma partilha e um testemunho das possibilidades que a relação entre a arte, a história e o pensamento abrem a todos nós.
