Estudos Brasileiros I
André Luis Muniz Garcia (UnB): Declínio como transição: compromissos de Nietzsche com poéticas modernas
Considerada por Nietzsche um divisor de águas em sua obra, pode-se dizer que Assim falou Zaratustra é ainda pouco explorada no que diz respeito aos seus compromissos com iniciativas e tendências da arte moderna. Já no Prólogo, Nietzsche propôs, mesclada a ricas imagens e sofisticação estilística, uma reflexão fundamental sobre a necessidade de se pensar o humano como transição e declínio: “O que de grandeza há no ser humano é ser uma ponte, jamais um fim: o que pode ser amado nele é que ele é uma transição [Übergang] e um declínio [Untergang]” (Za, Vorrede 4). Apesar de ter sido muito citada e comentada pela pesquisa especializada, quase nunca são levados em conta os pressupostos teóricos dessa proposta, muito menos foi devidamente observado que ela representava o ápice de um conjunto de ideias que Nietzsche já tinha esboçado em O nascimento da tragédia e que foram de fato experimentadas e amadurecidas nos dois tomos de Humano, demasiado humano, em Aurora e A gaia ciência. Para melhor compreender o alcance dessa reflexão, esta conferência pretende apresentar seus momentos decisivos, focando o forte laço que ela mantém com os interesses de Nietzsche na expressão “moderna” de iniciativas poéticas amplamente praticadas no século XIX.
José Nicolao Julião (UFRRJ): Para uma interpretação nietzschiana do Renascimento
De modo geral, podemos afirmar que há em Nietzsche, pelo menos, três momentos de apropriação sobre o Renascimento (Renaissance) no conjunto da sua obra e que esses estão, respetivamente, vinculados, mas não totalmente afinados, com as três fases standard do seu processo de desenvolvimento intelectual. Temos, portanto, uma visão de censura na primeira fase, opondo o movimento ao termo alemão renascimento (Wiedergeburt ou Wiedergeboren) vislumbrado no drama wagneriano; na fase intermediária, são reconhecidas certas características da representação simbólica do Humanismo renascentista como aliadas ao seu próprio projeto de constituição de um pensamento autêntico e de tipos elevados que, à época, está associado ao espírito-livre (der Freigeist); e por fim, na última fase, Nietzsche embarca numa radicalização que o movimento lhe propicia para a transvaloração dos valores cristãos a partir do exemplo de Cesare Borgia, implantando-o, deste modo, no seu próprio projeto da transvaloração de todos os valores.
Evento financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto UIDP/00183/2020.