Kaitlyn Creasy
“Niilismo” é utilizado atualmente para designar uma vasta gama de atitudes. Por exemplo, enquanto os niilistas podem ser tipificados como aqueles que têm certas crenças sobre o objetivo ou o significado da vida — pois acreditam que não há nenhum objetivo ou “ponto” na vida — também são frequentemente caracterizados como rejeitando os valores morais. Nietzsche preocupa-se com estes pontos de vista, mas só os chama “niilistas” quando a pessoa que os defende (1) encontra neles uma razão para rejeitar a vida e a existência e/ou (2) é assim impedida de manifestar ou manter a sua própria autonomia, o que implica lutar eficazmente pelos seus objetivos e crescer na sua prossecução. Por outras palavras, o niilismo nietzschiano é negador da vida: este envolve (1) uma avaliação negativa da vida ou (2) um fracasso em querer o poder com sucesso (recorde-se a afirmação de Nietzsche de que a vida é vontade de poder).
Depois de desenvolver esta descrição, na palestra será defendido que, embora Nietzsche critique uma grande variedade de fenómenos niilistas (por exemplo, psicologias, crenças, valores e instituições), este está principalmente preocupado com as configurações psicológicas negadoras da vida que estes fenómenos perpetuam e produzem. Dito de outro modo, o problema do niilismo em Nietzsche é, antes de mais, uma questão de manifestação psicológica do niilismo: o niilismo afetivo, entendido como fraqueza da vontade, ou a incapacidade de querer poder eficazmente.
Bio
Kaitlyn Creasy é Professora Associada de Filosofia na Universidade do Estado da Califórnia, em San Bernardino. Trabalha em questões de filosofia europeia do século XIX, psicologia moral e ética. É autora de The Problem of Affective Nihilism in Nietzsche (2020), bem como de vários artigos sobre Nietzsche.
Evento apoiado pela Fundação para a Ciência e para a Tecnologia do Ministério da Educação e Ciência de Portugal no âmbito dos projetos UIDB/00183/2020 e UIDP/00183/2020.