Mundos e Vidas
Um “seminário” é o lugar onde se lançam sementes. Neste, incidimos sobre o pensamento antigo. Não apenas abordaremos textos consagrados com o título “textos de filosofia”, mas, também, sobre o que foi produzido pelos médicos, historiógrafos, dramaturgos. A epopeia e a lírica visavam a vida e num mundo próprio. Na antiguidade, não havia disciplinas ou formas de expressão literária fechadas umas para as outras. O que entendemos por pensamento antigo é uma reacção à — e uma provocação da — vida. O ser humano encontra-se exposto aos elementos, aos outros seres humanos, a seres vivos e ao seu próprio mundo. Há uma experiência muito pessoal e particular do que é a minha vida e simultaneamente sob plano de fundo reconhece-se de quando em vez a vida como acontecimento maciço em que tudo tem lugar: o universo infinito e o infinitesimal, nós todos lá metidos, cada um de nós a cintar sob a nossa perspectiva singular a totalidade dos mundos e das vidas. Há tantos mundos quantas as pessoas. Há tantas formas de vidas que uma única pessoa consegue sem dificuldade reconhecer os seus tempos passados de outras vidas que teve. O pensamento antigo partia da experiência maciça do universal humano. Interrogava a habitabilidade do mundo, a conservação da vida, mas, também, as experiências mais radicais do que poderíamos chamar encruzilhadas subjectivas, pessoais, privadas, existenciais. A contemporaneidade não pode, pois, dispensar as suas origens. Só assim ela se revelará na sua originalidade e força. Todos nós, contemporâneos, somos obrigados a reconhecer o vínculo ao nosso passado biográfico. Acordar as vidas narradas e vividas do passado não é aceder ao esquecimento que tudo torna longínquo, distante e inexistente. É chegar à fonte e à origem da própria vida a acontecer e a reclamar-nos para a dizermos.
Org. António de Castro Caeiro.
Marta Faustino: "Arte(s) da vida"
Bartholomew Ryan: "Pensamento ecológico"