Nietzsche e Fritz K. Ringer: possíveis aproximações entre os filisteus da cultura e os mandarins alemães

Fritz K. Ringer, na obra “O declínio dos mandarins alemães” (1969), realiza um estudo de boa parte da comunidade acadêmica alemã desde o final do século XIX até o início do século XX. Para o historiador, apesar de inegável reconhecimento do quanto a elite acadêmica daquele tempo exercia profícua influência sobre a Alemanha, era preciso alguns resguardos, haja vista o risco de certas influências pseudo-idealistas comprometerem campos estratégicos como os da cultura e da política do país. Aparentemente, semelhante à impressão de Ringer, Friedrich Nietzsche, anos antes, havia escrito a “Primeira Consideração Extemporânea: David Strauss, Confessor e Escritor” (1873). Em sua análise, Nietzsche aponta para a superficialidade e a pobreza de espírito de alguns intelectuais, agravando, dessa forma, o problema do adoecimento e da depauperação cultural da época. Diante desse cenário, a palestra propõe reconhecer a provável interlocução entre os mandarins alemães, de Ringer, e os filisteus da cultura, apresentados na filosofia nietzschiana. Desse modo, sugere-se nesse e em outros escritos do filósofo alemão, um pensamento analogamente similar ao trabalho de um médico e, por isso, capaz de diagnosticar os males da cultura germânica em franca decadência que, fortemente influenciada pela rasa intelectualidade dos seus filisteus, levaria o Estado ao agravamento do antissemitismo, cristalizado poucas décadas depois na imagem do Terceiro Reich.

Evento organizado por Paulo Lima.