CultureLab • Seminário

Pensando a origem e a diversidade da vida através da associação entre seres diferentes

Maria Cristina M. Motta

A diversidade de seres vivos que compõem a árvore da vida é resultado de associações entre diferentes organismos primitivos que co-evoluíram em simbiose. Simbiose significa viver juntos. Neste sentido, as relações podem ser permanentes ou transientes; neutras, benéficas ou prejudiciais para um dos seres. Entre as relações benéficas temos o mutualismo onde os dois seres se relacionam de modo dependente e uma vez separados não mais existem, eles passam a formar um único ser. A simbiose ocorre necessariamente entre espécies diferentes, o que assume um viver juntos com perdas, ganhos e concessões. O estudo das interações cooperativas entre organismos primitivos é essencial para entender o aumento da complexidade celular e a diversidade da vida. Do ponto de vista científico, tudo indica que todos os seres que compõem a árvore da vida descendem de microorganismos primitivos, as bactérias e archaeas, conhecidos como procariotos. Estas interagiram entre si através de simbiose obrigatória, possibilitando o aparecimento de seres mais complexos, os eucariotos. Estes últimos possuem o material genético compartimentalizado no núcleo e estruturas denominadas organelas, onde diferentes atividades biológicas ocorrem de modo específico e otimizado. Entre estas estruturas existem algumas que aindam mantêm características bacterianas, como a mitocôndria e o cloroplasto, e que são muito importantes para a produção de energia e metabólitos essenciais. Vale ressaltar que estas associações ocorreram a partir de pressões naturais e seletivas, como o aumento exponencial de oxigênio na atmosfera. Relevante ainda mencionar que todas as mitocondrias que existem na natureza descendem de uma única bactéria. O mesmo vale para o cloroplasto, presente em células vegetais. Isso significa que evoluimos a partir de encontros únicos, especiais. Ao longo do processo evolutivo, associações entre diferentes microrganismos ocorreram, algumas permaneceram e outras não, mas todas elas tiveram sua importância. E assim se formou a árvore da vida com toda a sua diversidade. Nela, um ser primitivo não é um ser obsoleto, mas sim aquele que surgiu primeiro e que guarda as características da vida em seu primeiro momento. Concluimos que a vida complexa depende da associação de seres simples, primitivos. Posteriormente, os seres eucariotos se especializaram, formando diferentes tipos de células, que se organizaram em tecidos e orgãos para formar organismos ditos mais evoluídos. Na minha pesquisa científica, utilizo abordagens moleculares, celulares e bioquímicas para estudar a associação mutualística entre uma bactéria e um protozoário. Este é um modelo biológico que possibilita melhor compreendermos a evolução das células e o aparecimento de suas organelas.

Bio

Maria Cristina M. Motta é Professora Associada do Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Cientista do Nosso Estado (FAPERJ). Além disso, possui pós-graduação lato-sensu em Filosofia Contemporânea, Filosofia das Diferenças, Filosofia Antiga e da Arte pela PUCRio. Atua principalmente na área de Parasitologia, onde utiliza protozoários tripanosomatídeos como modelo de estudo através de abordagem celular, bioquímica e molecular; Filosofia da biologia, evolução e origem da vida.