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O Escândalo da Distância

Muito se escreveu sobre o carácter filosófico d’A Montanha Mágica de Thomas Mann. Evoca‑se a aprendizagem de Hans Castorp, os debates entre Settembrini e Naphta, o encontro do jovem com os enigmas do tempo, do amor e da morte. No entanto, a julgar pela caracterização do sanatório alpino, no qual o protagonista, meditabundo e entorpecido, passa sete anos da sua vida, falha‑se o alvo. Se A Montanha Mágica é um livro filosófico, não o é em virtude dos seus temas, mas porque dramatiza uma interrogação sobre as vantagens e os inconvenientes da distância para o pensamento.


Será a distância — simbolizada pela montanha — um incentivo à reflexão? Ou será um subterfúgio para não agir, um pretexto para a indiferença, para a desistência, para a cobardia?


E qual será a alternativa? Um retorno aos negócios e às guerras da planície? Em que reside a boa distância? Hoje, em tempos de aceleração tecnológica, radicalização política e guerra iminente, esta pergunta — que foi a de Mann — é também a nossa.


O Escândalo da Distância, de João Pedro Cachopo, é uma das obras que integram a coleção de livros “Ensaio Aberto”, resultado da parceria entre a NOVA FCSH e a PUC-Rio.

Coleção Ensaio Aberto

Na tradição ocidental, deu‑se por certa a separação entre Filosofia e Literatura, tendo‑se como consequência um entendimento histórico que cindia, de um lado, a mente, a reflexão ou a razão, e, de outro lado, o corpo, a criação ou a emoção. Perdia‑se, assim, a possibilidade de um conhecimento que, em vez de separar, aproximasse Filosofia e Literatura, perguntando‑se: mas escritores não filosofam, e filósofos não escrevem? Os Ensaios Abertos desta colecção surgiram da vontade de explorar como, apesar da conhecida crítica metafísica que a Filosofia dirigiu à Literatura, elas não cessaram de se aproximar.