Arte e Tradução
Onde começa e onde termina o acto de traduzir? Depois de décadas de teorias da tradução, e após inúmeras histórias sobre a visibilidade e a invisibilidade do tradutor, talvez seja justo dizer que a experiência de traduzir continua, não por definir, mas por ocupar – do mesmo modo que alguém ocupa um espaço que lhe é desconhecido com um tempo que é apenas seu. Para chegar a restituir não tanto o que significa, mas o modo como pode agir a tradução, seria preciso abandonar o cume da teoria, e regressar ao plano raso da prática. Se o gesto da tradução chegar a exceder – sem excluir – o simples exercício de mediação da linguagem escrita, contida num espaço literário ou num domínio científico, passará a ser de novo um universal, a transposição livre de um corpo discursivo num elemento visual, de uma palavra numa imagem, de um material numa forma – e, no limite, de tudo em tudo. Na raiz dessa transposição só poderia então estar a arte, por definição um processo de deslocação, e por isso também de tradução. Daí resulta uma pergunta: De que forma podem um escultor, um pintor, um fotógrafo ou um cineasta olhar a sua prática artística como um traduzir, e como imaginam essa tradução?
Org.: Bruno Duarte e Gianfranco Ferraro