Bruno C. Duarte e Nuno Fonseca
Quando chega ao fim um conceito? Talvez no momento em que se transforma numa imagem. Depois de muitas variações sobre a «arte» ou a «estética» do fragmento, este parece ter chegado a um estado de exaustão, ou pelo menos a um impasse. Sob muitos aspectos, deixou de ser um universal, uma figura da teoria, e voltou a ser apenas um fragmento, isto é, uma parte visível e tangível de qualquer coisa como um todo que, para todos os efeitos, permanece desconhecido enquanto tal. Como fragmento, tornou-se um conceito que já só é um conceito porque o reconhecemos imediatamente (e literalmente) como uma imagem. É a partir do desencontro destas duas percepções – uma teórica ou discursiva, a outra sensível ou física – que se torna ainda possível pensar isso a que chamamos «fragmento». Para o fazer, tentaremos olhar de perto algumas obras célebres que, por caminhos e por razões muito diferentes, se tornaram fragmentos: Woyzeck de Georg Büchner – Almas Mortas de Nikolai Gógol – Metrópolis de Fritz Lang – Greed de Erich von Stroheim.
A noção de experiência estética tenta dar conta de uma parte importante da experiência humana e, embora abarque uma variedade imensa e multifacetada cuja complexidade e vagueza tem sido um desafio para a sua definição (ao ponto de alguns sugerirem a sua inutilidade conceptual), ela não deixa de ser central e determinante para toda uma disciplina filosófica: a Estética, a qual não se confunde com a Filosofia da Arte, ainda que com frequência a intersecte. Considerar-se-á aqui o caso da cidade, que não é tanto um objecto como um campo multiforme e fragmentado de possíveis experiências estéticas, para tentar esclarecer ou, pelo menos, dar um contributo para o esclarecimento do sentido e alcance desse tópico ou lugar filosófico.
Imagem: Greed (Erich von Stroheim, 1924)