CultureLab • Seminário Permanente

Alexandra Dias Fortes

Hadot, Wittgenstein e a tradição dos exercícios espirituais

Pierre Hadot, primeiro entre os filósofos franceses a escrever sobre Ludwig Wittgenstein nas décadas de 50 e 60 do século passado, considera que a filosofia se caracteriza por ser uma actividade; contesta, por isso mesmo, que a filosofia seja um somatório de doutrinas. Trata-se, para Hadot, de como vivemos a nossa vida: “É-se filósofo, não em função da originalidade ou abundância do discurso que inventámos ou desenvolvemos, mas em função da maneira como vivemos. Trata-se, antes de mais, de nos tornarmos melhores.” Hadot é, neste ponto, extremamente próximo de Wittgenstein, cuja famosa injunção ao silêncio é, para o filósofo francês, um exemplo contemporâneo a inscrever no que apelida de tradição dos exercícios espirituais. Uma concepção da filosofia devedora do pensamento antigo entendido como educativo – num sentido duplamente prático e profundo, que quer aprender a governar as atitudes e o espírito –, ético na sua acepção mais prática e menos moralista. Ao mesmo tempo, a filosofia é, para Hadot e na esteira de Wittgenstein, parte de uma forma de vida, humana, de uma linguagem – cujos limites são adumbrados por Wittgenstein no Tractatus, adensando-se o seu jogo, mais tarde, nas Investigações –, e consiste, poder-se-ia dizer, num aperfeiçoamento (ao modo de Emerson e segundo Stanley Cavell). Por meio da leitura que dá vida aos signos, da escrita, da reflexão livre, o espírito cuida de se melhorar. Neste seminário tentar-se-á apresentar a leitura – precisa, luminosa – que Hadot faz de Wittgenstein, e, bem assim, mostrar como Wittgenstein foi importante para Hadot, em particular para a sua caracterização da tradição dos exercícios espirituais.

Bio

Alexandra Dias Fortes é membro integrado do Instituto de Filosofia da Nova – IFILNOVA e lecciona “Epistemologia e fundamentos do pensamento crítico” no ISCTE-UNL (Instituto Universitário de Lisboa). Recentemente, integrou a equipa dos projectos financiados pela FCT, “Epistemologia da crença religiosa: Wittgenstein, gramática e o mundo contemporâneo”, e “Fragmentação e reconfiguração: a experiência da cidade entre arte e filosofia”; neste último desempenhou funções de investigadora doutorada contratada (Abril 2019 – Fevereiro 2022). Os seus interesses e áreas de investigação incluem a estética, as metodologias filosóficas e a filosofia da linguagem, focando-se, em especial, no pensamento de Ludwig Wittgenstein. Desde 2018 que também se dedica a temas da filosofia da cidade.


Para participar na sessão via Zoom, use este link.