Jorge Viesenteiner
A pesquisa tem por objetivo elaborar algumas possibilidades para um modelo explicativo do perfeccionismo moral em Nietzsche, cuja investigação resulta de pesquisa anterior sobre a relação entre autogenealogia, autorreferencialidade e normatividade. O ponto de partida é uma noção de teleologia compreendida em termos apenas formais e não substantivos, que por sua vez tenha condições de apelar intuitivamente como horizonte motivacional. Em termos nietzscheanos, essa teleologia está vinculada à noção de Selbstüberwindung, e, ao compreendermos no sentido de apelação intuitiva, evitamos cair e problemas de versão elitista do perfe ccionismo em Nietzsche. O processo de realização da excelência humana é conduzido, por um lado, por uma instância teórica, a saber, uma virtude epistêmica resultante do controle sobre o conteúdo dos nossos pontos cegos (tese autogenealógica da probidade intelectual) e, por outro lado, por uma instância pragmática em um espaço determinado – resultado das consolidações, sedimentações e cristalizações de práticas comportamentais e de crenças morais afetivamente incorporadas (mesmo as ilusórias) que deram certo ao longo da história, que antes de precisarem ser justificadas em termos teóricos (deflacionismo), são empregadas em proveito da organização prática da vida moral orientada pelas demandas e objetivos que temos em nossa vida cotidiana –, cujas ações, no interior des se espaço, são expressões de um processo de retroalimentação entre a instância teórica e pragmática (movimento circular e não binário) que culmina no exercício da excelência humana com algum sucesso. Trata-se, por fim, de um modelo coerentista do perfeccionismo moral, na medida em que interconecta crenças individuais e o mundo de maneira retroalimentativa.
Moderador: Pietro Gori
Jorge Luiz Viesenteiner é doutor em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e atualmente Professor do Departamento de Filosofia e da Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Foi Coordenador da Pós-graduação em Filosofia da UFES e, atualmente, é também Diretor Editorial da Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF). É autor, dentre outros, de “A grande política em Nietzsche” (Annablume) e “Nietzsche e a vivência de tornar-se o que se é”. Tem por campos de investigação História da Filosofia, Ética e a relação entre Filosofia e Literatura.