Topografias Imaginárias – A cidade como estúdio
Várias divergências atravessam a história do cinema e dividem cineastas, mas talvez uma das mais decisivas seja a que diz respeito à relação com a realidade. A esse nível poderíamos talvez distribuir os cineastas por dois lados (salvaguardando uma enorme mancha cinzenta, cheia de tonalidades, entre os dois): aqueles que criam o seu programa formal a partir da realidade e aqueles que encaixam a realidade no seu programa formal. Este programa formal, e a relação entre cineasta e realidade que depreende, têm um nó: o plano.
De várias maneiras a teoria do cinema definiu o plano cinematográfico. Uma delas define-o como um contentor, um recipiente, que o cineasta instala e prepara para receber aquilo que filma.
Este 5º ciclo de visionamentos comentados começa por procurar explorar e analisar as operações que, num filme, são levadas a cabo para que o espaço real seja um espaço que cabe (nesse contentor ou recipiente). Mas essa investigação levantará inevitavelmente questões mais latas, relacionadas com a representação – que ações se operam num espaço (real) para o preparar para a representação (cinematográfica ou outra) – e relacionadas também com a cidade – quanto destas operações (de arrumação, limpeza, hierarquização) tem afinidades com as ações levadas a cabo no espaço urbano de Lisboa e que consequências têm estas nos modos da sua habitação.
Pensar ou olhar para a cidade como estúdio é ainda considerá-la como um espaço de trabalho que vai ser redimensionado, agenciado, para produzir um outro tipo de espaço que é o cinematográfico (sensorial/percetivo, imaginário e simbólico). A cidade é aí um instrumento e o suporte de uma outra cidade, a que se vê no ecrã e a que se recompõe no espaço mental do espectador graças ao filme.
A cidade como estúdio é então o tema deste programa. Ele será simultaneamente um posfácio (fecha o ciclo até aqui dedicado ao encontro do cinema com a arquitetura) e um prefácio: antecede e prepara (antiteticamente) o ciclo que será iniciado na próxima edição, com um programa que sairá para a rua ao encontro dos espaços reais, auscultados a partir da sua sonoridade.
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Eliana Sousa Santos
Luís Mendonça
Mariana Liz
LISBOA DE HOJE E AMANHÃ, António Lopes Ribeiro, 1948, 40’
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Tiago Baptista
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Joana Braga
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