O projeto trata uma das principais barreiras à participação democrática, nomeadamente, a exclusão sistemática de certos grupos dos processos políticos. Sejam entendidas como “exclusão externa” (falta de acesso à discussão política) ou “exclusão interna” (falta de impacto real nos resultados da discussão política em que se participa), essas injustiças comunicativas afetam desproporcionalmente pessoas de minorias culturais e linguísticas. Conforme destacado, por exemplo, pela Conferência sobre o Futuro da Europa, as barreiras linguísticas e culturais agravam o pensamento fechado e a falta de diversidade no diálogo sobre questões de relevância internacional, criando “áreas” de pensamento entrincheiradas em fronteiras nacionais e linguísticas e dificultando a criação de uma esfera pública verdadeiramente europeia. O plano de investigação e inovação do projeto MultiPoD visa melhorar radicalmente o diálogo político ao nível europeu, através de grafos de conhecimento evolutivos e tecnologias generativas impulsionadas por Inteligência Artificial, que mobilizam a inteligência coletiva, superam as barreiras de comunicação existentes e proporcionam uma melhor compreensão das interdependências entre processos participativos, decisões políticas e padrões de comportamento, pensamento e argumentação na deliberação pública de assuntos internacionais. Para tal, o MultiPoD reúne parceiros experientes em casos de uso, bem como redes europeias empenhadas em fomentar processos democráticos participativos e deliberativos, parceiros tecnológicos com um forte historial em processamento de língua natural multilingue, e parceiros de investigação líderes, especializados em inteligência coletiva, teoria da argumentação, interação humano-computador e métodos visuais para apoiar e analisar a comunicação online.
A equipa da Universidade NOVA fará uso do conhecimento dos seus investigadores em filosofia e linguística nas áreas de teoria da argumentação, filosofia da linguagem e filosofia política (IFILNOVA), bem como de linguística computacional (CLUNL), para contribuir de diversas formas teóricas e empíricas para o projeto. A sua hipótese orientadora é a de que as barreiras à deliberação democrática inclusiva não são, primordialmente, problemas de competência linguística, já que as ferramentas modernas de tradução automática (eTranslation, Google Tradutor, DeepL) atenuam significativamente essas dificuldades. Pelo contrário, os desafios mais profundos incluem o conhecimento cultural implícito, estilos de argumentação diversificados e diferentes entendimentos sobre o que constitui um discurso argumentativo razoável vs. falacioso. Estes fenómenos agravam e reforçam outras formas de injustiças epistémicas e comunicativas que afetam as minorias desfavorecidas. Para compreender melhor esses desafios à argumentação multicultural, os investigadores da NOVA irão participar tanto no desenvolvimento conceptual como no estudo empírico destes fenómenos, para desenvolver novos métodos e ferramentas de reconstrução de premissas implícitas e de reconhecimento avançado de falácias. Em colaboração com os parceiros tecnológicos de argumentação e deliberação de toda a Europa, irão promover a anotação e visualização consistente da argumentação durante debates políticos. Em termos gerais, a equipa da NOVA irá fornecer conhecimento e algumas soluções testadas relativas a barreiras linguísticas e culturais à comunicação e ao entendimento e respeito mútuos, limitando assim o impacto negativo dos contextos de microcosmos sociais, linguísticos e culturais na argumentação e deliberação inclusivas.