O direito de asilo é um assunto intensamente debatido em toda a Europa. O dever de assistência perante refugiados é objeto de controvérsias na opinião pública de vários países e é discutido em circunstâncias difíceis. O tamanho dos fluxos migratórios alimenta temores de conflitos culturais com os recém-chegados. As concepções de soberania nacional que sustentam deveres assimétricos dos estados entre os próprios cidadãos e os cidadãos de países terceiros pretendem limitar os deveres morais universais de assistência e acolhimento. Os custos da assistência e da integração de um número sempre crescente de requerentes asilo desencorajam os que em princípio defenderiam a primazia dos direitos individuais universais em relação ao poder dos estados.
Perante um fluxo contínuo de requerentes de asilo a atravessar o Mediterrâneo, a União Europeia discute uma reforma do Sistema Europeu de Asilo de forma a satisfazer as expectativas potencialmente conflituais de ajuda humanitária e controlo das fronteiras. As propostas de reforma incluem a harmonização dos padrões de assistência e acolhimento, um procedimento europeu de atribuição do estatuto de proteção internacional e a redistribuição dos custos de assistência entre os estados membros.
Os filósofos têm uma óptima oportunidade de contribuir de forma significativa para o debate público através de vários instrumentos de análise. Podem aproveitar a vasta literatura existente na área em busca de um “equilíbrio reflectivo” entre pretensões morais diferentes e às vezes conflituais, como por exemplo o universalismo dos direitos individuais, por um lado, e os deveres perante os cidadão nacionais, por outro. Podem também analisar as argumentações produzidas no espaço público e salientar o seu grau de plausibilidade de um ponto de vista normativo. Por fim, podem ainda enriquecer o debate público através de uma análise empiricamente informada dos dilemas morais inerentes às políticas de integração ao nível nacional e europeu.
Para além do dilema teórico entre universalismo e soberania dos estados, podemos assumir uma relação prático-empírica entre os deveres e as capacidades de assistência. O projeto testa a hipótese de que esta não seja só uma relação de mútua limitação. Pelo contrário, políticas eficientes de integração mudam o contexto prático no qual são colocadas as questões normativas, nomeadamente em que medida os estados conseguem transformar a integração de cidadãos estrangeiros numa oportunidade de crescimento económico e social para a sociedade nacional. O projecto tenciona evidenciar como a experiência portuguesa de integração de refugiados demonstra que boas práticas de integração influenciam as intuições normativas e a prática dos deveres. Por isso, o projeto implementa uma análise empiricamente informada, e interdisciplinar, das políticas de integração e analisa os deveres morais no contexto concreto da realidade portuguesa no contexto europeu.
Elizabeth Pilar Challinor
Maria Cristina Santinho
Ana Bigotte Vieira
Ivete Santos
Marta Nunes Silva
Diogo Emanuel da Nóbrega e Silva
Marta Fiolic
Sina Knoll
Daniel Alexandre da Costa Veloso