ArgLab
Projeto de Investigação
Epistemologia da Crença Religiosa: Wittgenstein, Gramática e o Mundo Contemporâneo

O projeto explora um quadro wittgensteiniano em epistemologia incindindo sobre a questão da crença religiosa. A análise concentra-se em usos dos conceitos de conhecimento, certeza, convicção, crença, dúvida, opinião, prova e tomar por verdadeiro tal como tratados no último pensamento do autor. Embora Wittgenstein tenha dito não ser “um homem religioso” (mesmo tendo um ponto de vista religioso sobre o mundo, que na maioria das vezes identificou com a ética), ele oferece-nos uma série de instrumentos conceptuais para tratar a crença religiosa. Selecionámos alguns temas específicos para compreender a sua abordagem gramatical assim como as suas fontes e implicações. O nosso ponto de partida é a ideia de que a filosofia da religião constitui um campo privilegiado para observar as complexas relações entre o pensamento do primeiro e o do segundo Wittgenstein. De uma perspetiva tractariana da epistemologia como filosofia da psicologia às observações sobre proposições-dobradiça no Da Certeza, as compreensões epistemológicas de Wittgenstein modificaram-se e assim se modificou também a sua abordagem à crença religiosa. Se no Tractatus Wittgenstein tentou formular uma compreensão mística, a qual conectou com uma peculiar forma de solipsismo transcendental, a visão madura sobre a crença religiosa que encontramos nos escritos pós-1929 revela um autor preocupado com a linguagem tal como ela é empregada nas nossas vidas quotidianas. De forma a compreender tal mudança, consideraremos a ideia de uma “religião natural”, a qual expõe, sem nenhum aparato teológico, aspetos essenciais pertencentes à natureza humana. Tal encontra-se ilustrado na robusta crítica às descrições e interpretações intelectualistas de J. G. Frazer dos rituais de sociedades primitivas. Consideraremos igualmente se a noção de “forma(s) de vida” nas Investigações Filosóficas, uma chave para se compreender a “cultura”, é visada enquanto una, própria da humanidade, ou como uma diversidade de “formas de vida”. Dado que a rejeição da historicidade defendida por Wittgenstein em matérias de religião está fortemente próxima da Gramática do Assentimento de J. H. Newman, examinaremos este texto enquanto possível fonte para a conceção gramatical de Wittgenstein. O Da Certeza é claramente rico em implicações para uma epistemologia da crença religiosa e o “quase-fideísmo” de Duncan Pritchard, ancorado no trabalho do último Wittgenstein, tem importantes consequências para a compreensão da natureza dos desacordos religiosos, algo que é vital no nosso mundo contemporâneo. A ameaça do ceticismo existencial, de um ponto de vista wittgensteiniano, também será explorada tendo por referência o perspetivismo das virtudes de Ernest Sosa. Atendendo ao facto de que abordagens naturalizantes à crença religiosa levadas a cabo sob a bandeira do “naturalismo” levantam a questão do seu significado, verificaremos no final como aquelas se relacionam com o ponto de vista de Wittgenstein acerca dos fenómenos culturais.

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